Tag: Luciana Bessa

Cecília Meireles e alguns Problemas da Literatura Infantil
Literatura

Cecília Meireles e alguns Problemas da Literatura Infantil

Não é difícil escrever sobre uma escorpiana - Cecília Meireles - nascida em 07 de novembro de 1901 que exalava mistério, intensidade, magnetismo e uma força descomunal após algumas perdas. Difícil é traduzir em palavras as ausências de uma criança. Antes de nascer, seus pais, Carlos Alberto Carvalho Benevides (funcionário do Banco do Brasil) e Mathilde Benevides (professora primária), haviam perdido outros três filhos: Carmen, Vitor e Carlos. Três mês antes de vir ao mundo, Cecília fica sem o pai. Próximo de completar três anos de idade, falece a mãe. Cecília foi criada pela avó Jacinta e pela babá, Pedrina, que lhe contava histórias do folclore brasileiro. Anos mais tarde, Cecília participaria ativamente da Comissão Nacional de Folclore, porque acreditava se...
 Alforrias: um convite à poética de Rita Santana
Literatura

 Alforrias: um convite à poética de Rita Santana

Luciana Bessa Alforrias, obra poética da escritora baiana Rita Santana, publicada em 2012, traz vinte e oito poemas e um convite aos leitores: compartilhar da caminhada de um sujeito lírico que imprime à obra tonalidades afrodescentes. Além de vocábulos - “ancestrais”, “moleque”, “quilombolas”, “alambique” – esse tom já é perceptível no próprio título: “alforrias”. O maior desejo dos escravizados era conseguir sua “carta de alforria”, documento que oficializava sua liberdade. Outra conotação que o termo traz é a liberdade em relação ao homem amado, ao sentimento amoroso. Assim como o bardo português, Luís Vaz de Camões, se estiver presa é “por vontade” e nada mais. Rita Santana convidou outra poeta, Hilda Hilst, para participar da obra dela por meio do poema, colocado como epígraf...
O modo de ser e de estar no mundo
Literatura

O modo de ser e de estar no mundo

Luciana Bessa Somos fruto da “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) em que nossas relações acabam se confundindo com mercadorias expostas nas redes sociais. Nesse contexto, a aparência se torna a tônica da existência objetificando e artificializando as relações humanas que deixam de ser vividas em sua essência. Nesta sociedade que cria, edita as regras e os valores é comum o uso de máscaras sociais, como um artifício para se conviver harmonicamente em coletividade, e assim, sermos aceitos e legitimados. A imagem que o sujeito transmite de si é de beleza, força, benevolência, fazendo com que o outro acredite em suas “boas intenções”, na perfeição de suas palavras. Via de regra, as imagens transmitidas são, na verdade, ficções criadas por outros que não nós. Ao longo dos séculos, cr...
As pulsões na Casa do Sentido Vermelho
Literatura

As pulsões na Casa do Sentido Vermelho

Luciana Bessa Algumas leituras são desafiadoras. É o caso da A Casa do Sentido Vermelho (2013), da escritora Jorgeana Braga, prêmio Aluísio de Azevedo no 34º Concurso Literário e Artístico da cidade natal da autora, São Luís do Maranhão. A obra começa com uma apresentação-pergunta do poeta Dyl Pires: “Qual o sentido do sensível em nós?”. Antes mesmo de continuar a leitura, silenciosamente busquei a resposta dentro de mim. Cedo me tornei amante das artes literárias, em especial, a literatura. Ela me salvou de um ambiente tóxico e pobre, material e emocionalmente. O sensível me forjou na mulher que me tornei hoje. Em uma sociedade individualista, capitalista marcada pelo cansaço e pela positividade tóxica, onde parte das pessoas vivem com a cabeça enterrada em seus celulares, ser sensí...
Estrela-Fatal: Francisca Clotilde
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Estrela-Fatal: Francisca Clotilde

Luciana Bessa Conheci Francisca Clotilde Castelo Branco tardiamente. É eu o que o patriarcado tem essa prerrogativa de silenciar e de excluir as mulheres do cânone literário, Não só. Quem me apresentou Francisca Clotilde foi o Grupo de Estudos Filhas de Avalon através da professora Gildênia Moura, cuja tese de doutorado se chama “Mulheres beletristas e educadoras: Francisca Clotilde na sociedade cearense (da segunda metade do século XIX ao limiar do século XX)”. Um texto riquíssimo que precisa ser lido, assim como a própria escritora, essa tauaense nascida no ano de 1862, período em que o Ceará passava por uma grande epidemia: a cólera-morbo. Em virtude da seca de 1877, a família da autora migra para a cidade de Baturité, onde ela fez o Curso Primário. Logo em seguida, muda-se par...
Não está sendo fácil
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Não está sendo fácil

Luciana Bessa  A existência é assombrosa, ao menos para mim, que sinto uma imensa dificuldade em viver em uma época assolada pelo declínio ético e espiritual da humanidade. Encontro-me em completa contradição com o espírito do meu tempo em que a “a solidão é a maior ameaça da América no momento”; as relações são líquidas; a positividade é tóxica, o individualismo atingiu um alto nível, a leitura dos livros físicos ficou em segundo plano; ser influencer  é mais rentável do que estudar; Fake News é uma estratégia adotada por alguns políticos para ganhar as eleições; celulares precisam ser proibidos dentro de salas de aula para minimizar as distrações dos estudantes; o uso da inteligência artificial (IA) tem gerado desemprego; o vandalismo e a depredação do patrimônio público (epis...
Voz: um corpo que fala
Literatura

Voz: um corpo que fala

Luciana Bessa Não sei vocês, mas durante anos eu julguei a minha voz feia. Já fui uma dessas pessoas que entrava e saia de um espaço calada. Justificava para mim mesma que estava aprendendo mais ouvindo do que falando. O que não é de todo mentira. Em uma sociedade em que todos têm algo importante a falar, mas poucos disponíveis para ouvir, apurar os ouvidos foi uma das formas que encontrei para aprender e, claro, me proteger. É que falar é um modo de se expor. Em se expondo, ficamos mais suscetíveis a julgamentos e à vulnerabilidade. Bem, foi isso que pensei durante anos. Afinal, sou de uma geração que foi criada para não responder pai/mãe, para apanhar e não chorar, para não desacatar professores, para não rir alto, para escutar calada a conversa dos mais velhos. Nesta caminha...
Não consegui me expressar como queria
Literatura

Não consegui me expressar como queria

Luciana Bessa Você já tentou falar tudo o que está preso na sua garganta e não conseguiu? Eu já... por uma dezena de vezes. Você já tentou dizer tudo o que pensa a respeito do outro, mas no meio da discussão, você começa a chorar e a voz falha? Eu já... por uma dezena de vezes. Você já tentou apresentar um trabalho, seja na universidade ou no seu ambiente de trabalho, e sua voz engasgou? Eu já... por uma dezena de vezes. Diante dessa realidade, pensei: é falta de conteúdo. Estudei por anos a fios, mas nada mudou. Então passei a me definir como uma pessoa tímida, já que me sentia inibida quando precisava me comunicar e interagir socialmente com o outro. Com o passar do tempo, fui compreendendo que não se tratava de ter pouco conhecimento sobre um dado assunto, ou o fato de se...
Como anda sua saúde social?
Literatura

Como anda sua saúde social?

Luciana Bessa Fiquei sabendo por um desses vídeos do Instagram que trezentos e trinta (330) milhões de adultos passam semanas sem falar com seus familiares, ou mesmo os amigos. Embora eu seja uma pessoa que cultive a solitude – conexão comigo mesma – todos os dias eu falo com minha mãe e com minha melhor amiga Maria, que na verdade, se chama Vitória (moramos em cidades diferentes). Confesso: eu não fazia ideia que existiam pessoas ao redor do mundo que estavam fora do mundo das relações afetivas. Também não havia acompanhado o resultado de pesquisas que têm comprovado que estabelecer vínculos sociais é tão importante quanto manter o sono em dia, praticar exercícios físicos e ser adepto de uma boa alimentação. Fazendo uma rápida pesquisa, descobri que anualmente, em Austin-Texas...
Uns olhos cheios d’água ao ler Conceição Evaristo
Literatura

Uns olhos cheios d’água ao ler Conceição Evaristo

Luciana Bessa Conceição Evaristo é uma dessas escritoras versáteis que primeiro adotou o romance, Ponciá Vicêncio (2003), depois enveredou pelo conto Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), e ainda abraçou o verso: Poemas de recordação e outros movimentos (2017). Ressaltando que desde a década de 90, a mineira publica seus textos nos Cadernos Negros, uma publicação organizada desde o ano de 1978 pelo coletivo Quilombhoje, com o objetivo de dar visibilidade às vozes de autores afro-brasileiros. Eleita a intelectual do ano pelo Prêmio Juca Pato em 2023, concedido pela União Brasileira de Escritores, Evaristo concorreu a Academia Brasileira de Letras em 2018 para ocupar a cadeira de nº 07, cujo patrono é o poeta condoreiro Castro Alves.  Contudo, ao se recusar a bajulação habitual...