Literatura

Julgada
Literatura

Julgada

Alexandre Lucas O corpo estava desenhado de dor, camuflado entre terra e mato, a pele parecia brotar do chão, a tatuagem dava nome: cova rasa. Era o suficiente sabe disso para revirar os olhos, coçar a cabeça e remoer o estômago. Para alguns isso não era satisfatório, se fazia necessário panfletar a brutalidade, como se estivesse espalhando flores. Não era cinema com violência, mas a violência sem dramaturgia. A mão na cabeça já não pedia consciência. Os gritos desesperados para parar aumentavam a dosagem de selvageria. A faca fez vala como se fizesse rede de pesca. Na arena romana, a festa se fazia da morte dos bichos. Na arena de hoje, os bichos estão salvos, com algumas exceções. O tribunal da morte dava a sua sentença acompanhado de aplausos e filmagens. A vida é real, a...
<strong>Eu não sou flor</strong>
Literatura

Eu não sou flor

Por Alexandre Lucas* Floresça! Era o nome bordado no bastidor, ao lado da imagem de uma mulher segurando um coração exposto e um ramalhete de flores. Uma manta cobria seus cabelos. Olhos claros, olhar sério desses que impõem medo, mesmo sendo pintura.Tentava escrever um monte de palavras para não passar despercebida. Aquela mulher do quadro não parava de me olhar, como se tivesse vida. A palavra floresça parecia se juntar aquele quadro, apesar de não fazerem parte da mesma composição. Mesmo estando aparentemente tudo parado, tinha certeza de que estávamos em movimento e transformação: eu, o quadro e a palavra. Floresça mais parecia uma receita pronta, vendida nos consultórios de felicidade. Hoje é comum vender frases como remédios para curar toda e qualquer enfermidade. Basta crer...
<strong>Um desconhecido para se conhecer: Raimundo Lázaro Ribeiro</strong>
Literatura

Um desconhecido para se conhecer: Raimundo Lázaro Ribeiro

Muito além de carpinteiro, bilheteiro. Muito além disso, era um orgulho ser chamado de poeta. Raimundo Lázaro Ribeiro, nascido em 21 de setembro de 1924 em Campos Sales, no Ceará, que foi sua morada durante toda sua vida, escrevia suas rimas em qualquer pedaço de papel que tivesse espaço para alguns rabiscos. Muito conhecido em sua cidade, era teimoso, pois persistia em tudo que fazia, forte, foi guerreiro, venceu um câncer no auge  dos seus 80 anos. Sabia que a vida nunca era fácil para ninguém, mas em meio às dificuldades tinha seus momentos de graça e adorava fazer rima. Suas rimas eram sempre em formato de cordel, umas muito engraçadas, outras bem sérias e de cunho político, de tudo ele rimava, escrevia tudo o que via, principalmente se aquilo que ouvia lhe causasse estranhamen...
Viva João Ubaldo Ribeiro
Literatura

Viva João Ubaldo Ribeiro

Luciana Bessa “À merda com essa gente, o que eles sabem? Ninguém sabe nada, ninguém estuda, ninguém pensa, todo mundo se compraz em repetir as besteiras que mais satisfazem suas neuroses e inseguranças”. (João Ubaldo Ribeiro)O espaço é pequeno para mostrar a vivacidade de João Ubaldo Ribeiro, romancista, contista e cronista, dono de uma escrita contundente sobre seu tempo. Nascido em 23 de janeiro de 1941, na ilha de Itaparica (BA), Ubaldo é filho de Maria Filipa Osório e Manuel Ribeiro, político e professor, que não concebia que uma criança, aos sete anos de idade, não soubesse ler e escrever. Contratou um preceptor para ajustar essa falha. A exigência de seu pai fez nascer, para além de um leitor profícuo, um escritor ganhador do Prêmio Camões e criador de uma obra celebrada pelo púb...
<strong>Leitor: um descobridor de mundos</strong>
Literatura

Leitor: um descobridor de mundos

Luciana Bessa Eu disse em outros textos, meu apreço pelo mês de janeiro. Para além de estabelecer metas e projetar os meses seguintes, celebramos datas importantes: uma delas é o dia do leitor (07 de janeiro). Os rios secam, as paixões acabam, o corpo envelhece, o autor morre, mas o livro renasce cada vez mais forte e pungente cada vez que é lido. Leitor? O que seriam dos autores e de suas obras literárias se não fossem os leitores? A própria existência da Literatura estaria comprometida, porque não há arte sem público. Sem leitor, os autores produziriam suas obras e elas ficariam empoeiradas e esquecidas nas estantes das livrarias e das bibliotecas (alguém questionaria o porquê de sua existência?), ou no fundo de uma gaveta. Um livro fechado é como uma casa sem dono. Não a...
<strong>DÍVIDAS LITERÁRIAS</strong>
Literatura

DÍVIDAS LITERÁRIAS

Em homenagem a Nilton Maciel Ivan Melo Adoro filmes sobre a máfia, especialmente os ítalo-americanos. Desafio no Bronx é um deles. Nele, um garoto conquista a simpatia de um vizinho, um poderoso chefe da máfia instalada no bairro. O homem o “adota” dá-lhe emprego e proteção. Tudo, claro, a contragosto do pai, um honesto motorista de ônibus interpretado por Robert De Niro, o melhor de todos. O homem da máfia passa ao menino lições de mundo que ele carregará por toda a vida. Certa vez, convence-o de que em vez de agredir, ele deveria se afastar de um mal pagador, um rapaz que criava mil artimanhas para não pagar sua dívida, uma pequena quantia que lhe devia. Assim como a personagem velhaca da película, também tive algumas dívidas constrangedoras. Por bem, não eram dívidas pecuniá...
<strong>Convite Literário</strong>
Literatura

Convite Literário

Luciana Bessa Adoro o mês de janeiro, porque ele me remete a início de ciclos. Os ruins sempre passam. Os bons também. Entre ambos, o instante, que de tão rápido, muitas vezes não conseguimos registrá-lo, quiçá, vivenciá-lo. Caetano Veloso, é verdade, que o tempo é “um dos deuses mais lindos”, mas você se esqueceu de dizer que é também um dos mais cruéis e narcisistas, já que para conservar a beleza do momento, sua vida é curta. Em 2020 resolvi registrar um dos momentos sonhados e criei o Blog Literário Nordestinados a Ler. À princípio dois eram os seus objetivos: 1) Abordar a Literatura Cearense, tão rica, tão expressiva e com nomes tão potentes, como Emília Freitas, Alba Valdez, Rachel de Queiroz, Ana Miranda, Natércia Campos, Socorro Acioli, entre outras. Ao mesmo tempo é uma ...
Nordestinados a Ler na Rádio Cafundó
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Nordestinados a Ler na Rádio Cafundó

✍️ Na programação da Rádio Cafundó, o Nordestinados a Ler vai homenagear o historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista, Câmara Cascudo, nascido em 30 de dezembro de 1898, na cidade de Natal (RN), autor de mais de 150 livros, dentre eles: "Dicionário do Folclore Brasileiro" (1972), "A vaquejada nordestina e suas origens" (1974), "História dos nossos gestos" (1976) e "Superstição no Brasil" (1985). Recebeu, EM 1956, o Prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra.• Dia 31, sábado• Horário: 17h• 📻 Para ouvir, acesse o link: http://l.radios.com.br/r/179244
<strong>Jussara Salazar: escritora e artista visual</strong>
Literatura

Jussara Salazar: escritora e artista visual

Letícia Isabelle Alexandre Filgueira Nascida em Pernambuco, em 1959, Jussara Farias de Mattos Salazar, vive em Curitiba, desde 1985. Descendente de indígenas, negros e brancos, é artista plástica com várias exposições realizadas pelo país. Como poeta, traduziu livros-objeto em seu estúdio, edições artesanais com algumas tiragens assinadas, tais como Navíovo – Uma epopeia moderna ou A história moderninha da viagem da estrela pelas dobras do tempo; Plânctum; Inscritos da casa de Alice; Canônicas; e Jardim dos Retratos, entre outros. Tem poemas publicados na revista “Medusa” e em sites como do memorial da América Latina, no qual há também entrevista. Foi incluída na antologia Pindorama – 30 poetas do Brasil, organizado por Reynaldo Jiménez para a revista “Tsé-Tsé” de Buenos Aires. J...
Arriete Vilela: A palavra poética e memória
Literatura

Arriete Vilela: A palavra poética e memória

Letícia Isabelle Alexandre Filgueira Arriete Vilela nasceu em Marechal Deodoro (Alagoas) em 1949. Foi professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Poeta, contista e romancista, sua obra é extensa: Para além do avesso da corda (1980); Farpa (1988); Fantasia e avesso (1986); A rede do anjo (1995); Tardios afetos (1999); Vadios afetos (1999); Artesanias da palavra (Antologias de poemas, com participação de outros poetas); Maria Flor (2002); Grande baú, a infância (2003); Frêmitos (2004); A Palavra sem Âncora (2005); Lãs ao vento (2005); Ávidas paixões, áridos amores (2007); Palavras em travessia (2009); Obra poética reunida (2012); Contos reunidos (2011). Já recebeu numerosos prêmios, tendo sido distinguida como mérito cultural da União Brasileira d...