Literatura

Luiz Gonzaga, “minha sanfona, minha voz, o meu baião”
Literatura, Sem categoria

Luiz Gonzaga, “minha sanfona, minha voz, o meu baião”

Shirley Pinheiro “Modéstia à parte, mas se eu não desafinoDesde o tempo de meninoEm Exu, no meu sertãoCantava solto que nem cigarra vadiaE é por isso que hoje em diaAinda sou o rei do baião” Ser nordestino, como disse o poeta, é uma sorte arretada, mas isso implica também, no enfrentamento de vários preconceitos e estereótipos, de violência, de pobreza, de seca, dentre outros. Mas se tem uma máxima nordestina que muito me agrada é que todos nós já nascemos escutando Luiz Gonzaga. Não importa se você prefere rock, pop ou samba, se nasceu no Nordeste, com certeza conhece o Rei do Baião e, provavelmente, gosta de suas músicas. Dono de uma voz inconfundível, Luiz Gonzaga do Nascimento foi o maior responsável por difundir a cultura nordestina pelo resto do país. De chapéu de couro ...
Os vazios não nos habitam
Literatura

Os vazios não nos habitam

Alexandre Lucas Dedilhar teus lábios como se escrevesse sabores. Sentir o suspiro com um manifesto desesperado de bem querer. Revirar os lençóis, os pudores e tocar o terremoto que se faz a partir do teu ventre, depois sair como quem viu imagens nas nuvens, inesperadas e passageiras. São cinco horas da manhã. A cama está vazia como todos os dias.  A rede balança, enquanto tomo coragem para iniciar os trabalhos. Tive sonhos de carne e intervalos: acordei quase mar, sol e lua. Acordei. Maiakovski estava encostado na estante. Os trabalhadores distantes da poesia, mas os sonhos existiam, os de ontem e os de amanhã. É hora de sair. Hoje, a calça está mais apertada e vou de mochila, carrego a fome e os sonhos paridos da ausência, porque nunca estamos vazios.
Cássia Eller: uma voz sempre viva
Literatura

Cássia Eller: uma voz sempre viva

Luciana Bessa Cantora e compositora, Cássia Eller, uma das maiores vozes do rock brasileiro da década de 1990, foi considerada pela revista Rolling Stone Brasil, como a 18ª voz de sua época. E que voz! Uma rouquidão potente que foi sendo lapidada com o tempo e que não deixou de ecoar mesmo depois de sua partida, no dia 29 de dezembro de 2001. Dona de um Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock pelo Acústico MTV (2001), com mais de um milhão de cópias vendidas, três canções desse projeto continuam marcando gerações de jovens-adultos: “Malandragem", "Por Enquanto" e "O Segundo Sol". “Malandragem”, por exemplo, escrita em 1985, é uma mistura da sensibilidade do Cazuza e da energia do Frejat (Barão Vermelho), que traz à tona a esperteza e a astúcia diante das adversidades que a vida nos...
Segue a viagem
Literatura

Segue a viagem

Alexandre Lucas Domingo, a praia se espalha diante dos olhos, os nervos entram em tempestade. O patuá de Yansã repousa no fundo da bolsa. O coração é espremido, talvez exploda. A mãe mastiga batata, o filho fica quieto, pelos menos por alguns minutos. A moça do lado olha pela janela, as luzes descrevem as estradas. O seu diálogo é curto e desconvidativo. O jovem bebe o seu descanso e recita seus versos de improviso. Recebe aplausos e mais uma dose.  A maioria dorme, enquanto a noite se encurta. Faz escuro, mas o sol nasce pelas manhãs, porém pode chover. Procuro as estrelas, já não estão no céu, muito na bolsa carregada de livros e roupas sujas.  A moça do lado continua calada, suas pernas balançam, parece inquieta.  O ônibus segue viagem, mas circula pel...
A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE MULHERES NA REGIÃO NORDESTE
Literatura

A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE MULHERES NA REGIÃO NORDESTE

Luciana Bessa Leitura e escrita são instrumentos de poder. Quem lê e quem escreve é mais consciente de si e dos fatos que estão ocorrendo ao seu redor. Ambas nos permitem enfrentar as experiências (positivas e negativas) a que somos submetidos. A linguagem, para além de uma dimensão comunicativa, é uma prática social pela qual os sujeitos se constituem por meio de interações sociais. Logo, a linguagem é uma atividade humana, histórica e social. A palavra é a unidade funcional da linguagem permeada de elementos de natureza visual, acústica e sinestésica. Através dela aprendemos a conhecer melhor o universo de possibilidades que nos cercam, por isso ela tem sentido e faz sentido. Além disso, conhecemos e nos fazemos conhecer pelo outro, desvendamos a nós mesmos e nos aproximamos ou ...
No bolso da cabeça
Literatura

No bolso da cabeça

Alexandre Lucas A estrada arrasta lembranças. O Sol castiga a pele e desorienta a paciência. O amor não ficou em casa, veio no bolso da cabeça. Trago na calça algumas moedas para o café quente. O bêbado estende a mão e a caatinga tentando esquecer o amanhã. No banco mastiga a língua e olha serenamente para tarde de poucos risos. Recebe moedas jurando comprar açúcar. Tomo café, enquanto observo as chegadas e as saídas. O cansaço decora os rostos, as malas parecem pesar, nunca é só uma mala. Três dedos de cachaça, não tinha açúcar, o bêbado faz careta. Olha para os lados, mas não encontra caminhos. A senhora do café exibe seu sorriso com dentes postiços: são os únicos que ela tem. Peço mais um café. O bêbado recebe mais algumas moedas e sai do banco com destino desorientado. ...
Ela se esfregava
Literatura

Ela se esfregava

Alexandre Lucas Passava três horas no banho, tinha apenas cinco anos e a cabeça marcada por enlinhados e lapadas. Era a preta, mesmo ninguém a vendo como a preta, preta. Se esfregava para ver se largava sua cor. Todos eram brancos, brancos, ela nasceu mais escurinha, se achava a patinha feia e gorda. Esfregava-se forte e desesperada, tinha fé que era sujeira. Fizeram acreditar que ela estava mudando de cor.  Queria parecer ser mesmo com a mãe.  Tomou banho de talco e foi desfilar na casa, crente que estava fazendo o papel de réplica matriarca. Serviu de riso e se desmanchou em soluços e lágrimas. Naquele momento sentiu o abraço aconchegante da mãe, mas ao mesmo tempo insuficiente. Depois do choro continuou se sentindo a maior pessoa: preta, gorda e amaldiçoada. ...
Livro premiado “As cartas de Maria” será lançado no Centro Cultural do Cariri no próximo dia 15
Cariri, Cultura, Literatura, Notícias

Livro premiado “As cartas de Maria” será lançado no Centro Cultural do Cariri no próximo dia 15

Foto: Divulgação No próximo dia 15 de dezembro, sexta-feira, às 18h, o Centro Cultural do Cariri recebe a poeta e artista Zulmira Alves Correia, para o lançamento do livro “As cartas de Maria”. Nele, a autora apresenta, em versos, os capítulos de uma partida. Inspirada em um compilado de histórias que ouviu quando era criança, a autora adentra a geografia sentimental da ausência, trazendo correspondências poéticas de uma mulher, no Sertão do Nordeste, que precisou partir de sua casa para seguir os caminhos da própria vida e o amor por um andarilho. Os poemas são apresentados em forma de cartas, escritas por Maria à mãe que ficou na antiga morada; são também relatos de uma mulher calejada pela morte dos filhos que mal chegavam a nascer. Nessa obra, Zulmira revela, com pungência, a vin...
Cultura Viva conhecer, defender e diferenciar
Literatura, Sem categoria

Cultura Viva conhecer, defender e diferenciar

Alexandre Lucas É necessário desromantizar o conceito de cultura como sendo algo necessariamente positivo. A cultura precisa ser percebida como processo permanente de produção e reprodução material e imaterial, permeada de conflitos, narrativas e ideologias predominantemente alinhada aos interesses da classe economicamente dominante.  O que nos coloca diante de um contexto de entendimento que cultura também não é algo homogêneo, imparcial e alheia a dimensão da alienação, violência, individualização, competição, mercantilização e fragmentação da vida e da luta pela construção de um novo tipo de sociedade.  No campo da luta por políticas públicas para cultura no Brasil, se faz necessário conhecer a trajetória, o caráter e a perspectiva peculiar e revolucionária do Cultura V...
Conceição Evaristo: acessando o mundo pelas palavras
Literatura

Conceição Evaristo: acessando o mundo pelas palavras

Luciana Bessa Ativista dos movimentos de valorização da cultura negra, Conceição Evaristo, mineira, nascida no dia 29 de novembro de 1946, é uma escritora multifacetada, que estreou como romancista com a obra Ponciá Vicêncio (2003), foi agraciada com o Prêmio Jabuti com os contos de Olhos D’água (2014) e se encontrou nos versos com Poemas de Recordação e Outros Movimentos (2017). Mãe lavadeira (Josefina Evaristo), tia lavadeira (Maria Filomena da Silva), desde muito cedo, Conceição Evaristo aprendeu a cuidar do corpo e da casa dos outros para sobreviver em meio a uma sociedade que não foi concebida para mulheres, tampouco, as negras. Aos setes anos de idade foi morar com a tia Filomena e o tio Totó para que a mãe tivesse uma boca a menos para sustentar. A privação do convívio mat...