Literatura

Nódoa
Literatura

Nódoa

Ludimilla Barreira* Basta fechar os olhos, lembro de quando tinha 11 anos, escondida no topo do pé de seriguela acompanhando os movimentos delicados das mãos do meu avô esfolando o couro do carneiro morto. Aquele bicho preto altivo, que no dia anterior disputava marradas e levantava poeira ao arrastar a pata, agora estava ali, com os olhos esbugalhados e o sangue escorrendo do pescoço na terra que absorvia a vida.  Sem entender a solenidade das ações, acompanhava com admiração e medo enquanto arrancavam a pele e a cabeça do animal, restando o corpo aberto, dividido o peso entre dois galhos. Com os olhos da inocência, achava que ali se encenava apenas um espetáculo pavoroso. Relembrando o momento, percebo que eu não era capaz de imaginar o que enfrentaria no futuro. Hoje, en...
Eu estive lá!
Literatura

Eu estive lá!

Luciana Bessa* Dia 15 de novembro não foi mais um feriado da Proclamação da República como tantos vividos. Saí do Cariri às 21:00h do dia 14, não no último pau de arara, mas em um ônibus da empresa Guanabara, que quebrou no meio do caminho. Como não lembrar do poeta gauche da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade? Com uma pedra, quer dizer, com um atraso de três horas, cheguei em terras alencarinas no dia seguinte às 10:00h manhã. Às 17:00h, já estava na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC) para presenciar Maria Bethânia ser agraciada com o título Doutora Honoris Causa. Em frente ao portão, minha irmã pergunta: “mas o que é isso?” “Ela fez doutorado na mesma Universidade que você?”.  Tive o prazer de explicar-lhe que Honoris Causa é um título con...
Antes que seja tarde
Literatura

Antes que seja tarde

Francisco Joherbete* Tudo que temosJeová quem dáO que queremosEle providenciaráBasta quererA ele procurar. Louvar a DeusSem demoraÉ a melhor coisaQue podemos fazer agoraAntes que esse mundoVá se embora. O Rei eternoJusto e poderosoJeová supremoPai e amorosoQuer que louvemosO seu nome glorioso. Louvar JeováÉ o que a Bíblia falaEntão obedeçaA essa ordem bem claraE viva de bemCom o DeusQue te guarda. Sobre o autor: Francisco Joherbete *Aluno do 8° ano do Colégio Municipal Pedro Felício Cavalcanti. Gosta de ler poesias e de fazer também. "Abrace sua tristeza".
Fuxico para as nuvens
Literatura

Fuxico para as nuvens

Alexandre Lucas* Gosto de não olhar para relógio. Que as horas se dilatem. Podemos abrir um vinho, despir à vontade. Ainda não tomamos vinho, café com canela, algumas doses, não importa o que bebemos. Ando me embriagando. Sento, encho um copo de esperança e me calo, enquanto bebo as suas conversas cheias de olhos e mãos. Zonzo, subo na mesa, convoco a eternidade, mesmo que ela demore trinta minutos.  A eternidade é uma embriaguez, prefiro acreditar que ela demora trinta minutos, um pouco menos. Nada é eterno, apesar da discordância. Atravessado pela linha da ternura, fuxico sorrisos para nuvens e declaro que a terra privatizada priva os corpos de liberdade.  Quase hora de dormir. Lembro dos teus olhos verdes e das luas comidas. Um vinho barato, desconheço das uvas e dos ...
Fim
Literatura

Fim

Luciana Bessa* Nascemos para a morte segundo a filosofia do alemão Martin Heidegger. Partindo dessa premissa, a então atriz Fernanda Torres enveredou-se pelo universo literário com o romance Fim (2013), obra de estreia. Trata-se de um romance que tem cheiro e sabor de finitude. A narrativa gira em torno de um grupo de cinco amigos cariocas “de longa data” complementarmente diferentes uns dos outros, mas unidos pelas farras, orgias, traições, bebedeiras, taras, uso de drogas e de viagra. A obra é, na verdade, uma gangorra entre a pulsão de vida (Eros ou sexual) e a pulsão de morte (agressão, Tânatos), já que somos sujeitos de libido. Ambas as pulsões estão sempre juntas segundo o princípio de conservação da vida. O cenário da narrativa é o Rio de Janeiro das décadas de 1960-1970, u...
“O mundo anda tão complicado”
Literatura

“O mundo anda tão complicado”

Shirley Pinheiro* Estou tentando não me sentir sozinha.Mas já é a terceira vez que concluo a mesma série essa semana. E tudo parece tão silencioso. Mesmo no mais profundo caos, uma calmaria perturbadora se lança ao meu estômago, emergindo preocupações que se fortalecem como uma espiral, em minha ânsia “engasturada” de não ser mais.E as ligações tornam-se escassas, enquanto a pressa se expande.Meu medo era não ouvir mais. Gastar o tempo com obrigações demais. Perder (de vez) as palavras. Mas acharam meu fone de ouvido e agora posso voltar a ouvi-los, enquanto me despedaço pelos quatro cantos da cidade. Pra ser sincera, ontem não foi a primeira vez que quase chorei no meio da rua. Não sei se de dor, cansaço, raiva, medo, saudade ou indignação. Talvez tudo e mais um pouco.Talvez nada.Lembr...
O Deus verdadeiro
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O Deus verdadeiro

Francisco Joherbete* Aqueles que falam de DeusPrincipalmente de JeováQue é seu nome verdadeiroE outro não há.São pessoas sábiasQue têm consciência do que falar. Jeová nosso DeusO único verdadeiroQue promete coisas boasPara seus hospedeirosE promete um futuroSeguro e verdadeiro. O Deus do amorDa paz e compaixãoEle quer nosso bemNem precisa de razãoPois ele sabe o que queremosE faz de bom coração. Tudo que precisamosÉ o procurarÉ melhor ir rápidoAntes do tempo acabarSe quiser procurarAcesse o site jw.orgLá ele está. Sobre o autor: Francisco Joherbete *Aluno do 8° ano do Colégio Municipal Pedro Felício Cavalcanti. Gosta de ler poesias e de fazer também. "Abrace sua tristeza".
Terreiro da Lua
Literatura

Terreiro da Lua

Alexandre Lucas* Escrevo um livro de mentiras no tempo da verdade. Deve ser provisória, por vezes intransigente, a verdade é que não entendo nem das razões e muito menos das mentiras.  O amor é sacolejo de invenções, é tão subjetivo e se preenche de condições objetivas para se inventar. Estou nas primeiras páginas. Confesso: escrever nas nuvens é fazer rebuliço. Os sentimentos são escritos cheios de reticências e atrevimentos. Escrevo livros, híbridos de lorotas e histórias comestíveis. Escrever é mandigar, jogar no caldeirão pernas com asas, beijos com estrelas, gritos molhados e noites enlouquecidas. Afinal, a escrita não precisa ser bem comportada e muito menos do lar, ela pode transitar nas encruzilhadas das ruas e das luas, dos incendiários e dos desconhecidos. Escrev...
Mãos e Braços
Literatura

Mãos e Braços

Ludimilla Barreira* Corri para casa. Senti a areia movediça dos pesadelos em que tentava correr e não saia do lugar. Tocava o chão com rapidez, com o desespero da sobrevivência. Enquanto girava a chave para abrir a porta, reclamei das duas voltas da fechadura. A urgência me fez questionar coisas antes impensáveis.  Iniciei a subtração das minhas roupas logo que a porta se fechou nas minhas costas. Tirava peça a peça como se me despetalasse. Ansiava as sensações que somente a água pode proporcionar: limpeza, alívio e esperança. Aquela água fria, que tantas vezes me fez sentir pontadas pelo corpo, ao invés de furar minha pele, me abraçava como salvadora. De pé, silenciosamente, confidenciei àquele líquido as marcas que eram arrastadas a cada gota que encostava em mim e levavam ...
Entre o espetáculo e a aparência… existimos!
Literatura

Entre o espetáculo e a aparência… existimos!

Luciana Bessa * Somos fruto da “sociedade do espetáculo” (Guy Debord), o que faz com que nossas relações acabem se confundindo com mercadorias expostas nas redes sociais. Nesse contexto, a aparência se torna a tônica da existência objetificando e artificializando as relações humanas que deixam de ser vividas em sua essência. Nesta sociedade que cria, edita as regras e os valores é comum o uso de máscaras sociais, como um artifício para se conviver harmonicamente em coletividade, e assim, sermos aceitos e legitimados. A imagem que o sujeito transmite de si é de beleza, força, benevolência, fazendo com que o outro acredite em suas “boas intenções”, na perfeição de suas ações. Via de regra, as imagens transmitidas são, na verdade, ficções criadas por outros que não nós. O Instagram é a ...