Literatura

Aos Mestres e Mestras da Cultura…
Literatura

Aos Mestres e Mestras da Cultura…

Luciana Bessa* Alguns extraem do couro roupas, sapatos e acessórios capazes de modelar um corpo e embelezar uma casa. Outros, manipulam o barro criando cerâmicas e louças que deixam os espaços mais aconchegantes e convidativos. Outros, ainda, valem-se das palavras capazes de nos transpassar. Quem são? Homens e Mulheres detentores de sabedoria popular, Mestres e Mestras da Cultura cujas habilidades enriquecem um país e o torna um lugar mais desenvolvido seja numa perspectiva política, econômica, especialmente, cultural.  Enquanto o poeta gauche da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade, concebia o poeta como um “Lutador”, o Mestre/a Mestra da Cultura é um sujeito político e de resistência, que luta contra uma cultura hegemônica e elitista. Eles/Elas não precisam passar...
Brincar de construir renovação
Literatura

Brincar de construir renovação

Alexandre Lucas* Estava de vermelho, uma camisa dizendo quem era, uma cueca acochada, isso pouco importa.  Chovia, as folhas tomavam banho. As pétalas murchas se despencavam. Tomava café, olhava as plantas molhadas com gosto de ternura, talvez a ternura tenha cara de chuva, de banho bem tomado. Da varanda via os contrastes, a cidade fatiada. As flores enfeitando as ruas esquecidas. Os prédios grandes engolindo as casas dos tamanhos dos corpos. A mãe insultando a filha e guardando o amor para outros dias. O sanhaço veio provar da banana, gostava de ver os pássaros próximos, mesmo sabendo que a sua liberdade é uma narrativa mentirosa, ele não faz o que quer, mas o que é possível, voa para onde  pode e escolhe os lugares de pouso, faz a sua defensiva.    A chuva deu uma trégua e o sol f...
Ceifa – para trilhar novos caminhos
Literatura, Sem categoria

Ceifa – para trilhar novos caminhos

Dina Melo* Talvez a solução seja rasgar os mapas que direcionam meu corpo pelos pontilhados já traçados Desaprender a língua Romper com o tempo Riscar os dicionários Destruir os roteiros Incendiar os textos escritos na minha carne Misturar as cores Emaranhar as linhas  Explodir como um navio em chamas Arrasar as terras conquistadas Cometer tantos erros que o mundo irrompa em gargalhadas Mas meu desejo de controle, como um general ameaçado, ordena que eu prenda as palavras deste texto E não escute seus sussurros  Finque meus pés na terra Mesmo que eu morra no inverno Quer que meu corpo se aconchegue ao medo, como a um velho conhecido Para que suas carícias sedutoras me façam novamente adormecer Como em tantos anos em que seu ve...
Qual o lugar da cultura no Crato?
Literatura

Qual o lugar da cultura no Crato?

Alexandre Lucas* Essa pergunta deverá nortear politicamente os movimentos sociais da cultura e a nova gestão municipal. Os desafios para a nova gestão são complexos e a sua superação depende de uma série de fatores políticos, econômicos e de articulações para colocar a cultura na centralidade e transversalidade política.   A nova gestão tem interesse em colocar a cultura na centralidade e transversalidade política? Esse questionamento deve ser guia da pauta política dos movimentos sociais, pressão e diálogo (diálogo quando possível) devem ser o combustível para consolidar e ampliar conquistas no campo cultural. Historicamente as conquistas sociais são frutos de uma série de processos de lutas e resistências. No Crato, as recentes conquistas políticas e jurídicas são resultado...
O ano está terminado…
Literatura

O ano está terminado…

Luciana Bessa* Dezembro é, sem dúvidas, um dos períodos mais movimentados do ano. Marcado pela reflexão, esperança e comemoração, é um mês de encerramento de ciclos e de preparativos para o que estar por vir.  Em dezembro, celebro a escritora Clarice Lispector, nascida no dia 10, em Tchechelnik (Ucrânia), no ano de 1920. Um de seus grandes prazeres era alardear aos quatro cantos que não tinha nenhuma ligação com a Ucrânia - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" – sua verdadeira pátria era o Brasil. De família judaica, viu-se obrigada a emigrar em decorrência da Guerra Civil Russa e chegou ao Brasil em 1922, ano da Semana de Arte Moderna (SAM). Na concepção do pintor e um de seus idealizadores, Di Cavalcanti, tratou-se de “Uma semana de escândalos ...
RACHEL DE QUEIROZ
Literatura

RACHEL DE QUEIROZ

Francinilda Santiago Lopes* Uma mulher afrente do seu tempo, assimdescrevo essa mulher nordestina que nosdeixou um grande legado. Romancista primeira mulher a entrar naacademia de letras do Brasil.Autora cearense de destaque na ficçãosocial e sempre foi,Carinhosa no seu jeito de falar, marcou ahistória como uma,Heroína, pois, lutou por um espaço queera somente masculino, se destacou com,Excelência na sua escrita, se tornando a,Literata mais prestigiada e estudada dopaís. Diva da literatura cearenseEscritora de resistência e imortal. Quixadá o lugar escolhido para suasinspirações pois,Urgente eram as denúncias que aescritora trazia nas suas obras literárias,Ela foi a primeira mulher a abrircaminhos para outras escritoras na ABLInesquecível em suas narrativashistóricas.Realista n...
ACERTARAM QUANDO DISSERAM QUE SOU UMA MULHER DE AMORES PLATÔNICOS
Literatura

ACERTARAM QUANDO DISSERAM QUE SOU UMA MULHER DE AMORES PLATÔNICOS

Shirley Pinheiro* Descobri que morávamos na mesma rua, na noite em que caiu a primeira chuva de dezembro. De longe, sua casa, uma construção comum, portas e janelas pouco convidativas, iluminara-se à luz dos faróis que nela adentrava. Até aquele momento, eu já sabia de cor a placa e o modelo do seu carro e pouco me surpreendia o adesivo do Padre Cícero, colado na traseira. Desde então, gastava minhas caminhadas a procurá-la, numa esperança insana de que nossos destinos, tantas vezes generosos, nos proporcionassem um desencontro ao acaso. E eu ainda consigo contar nos dedos, as vezes em que, na pressa do trânsito, tive um vislumbre da tua velocidade. Migalhas para os meus desejos. Banquetes consumados.  Mas ali, com os pingos da chuva se insinuando sobre o meu cabelo e o escur...
As três Marias
Literatura

As três Marias

Luciana Bessa* As três Marias, Prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira, publicado pela primeira vez em 1939, da escritora cearense Rachel de Queiroz, apresenta-nos três mulheres com seus sonhos, suas dores, suas dúvidas e seus medos de ser e de existir: Maria da Glória, Maria José e Maria Augusta, quem nos conta a narrativa. Segundo a própria autora, As três Marias é a sua obra mais autobiográfica, motivo pela qual ela sentiu dificuldade em dissociar realidade e ficção. A semelhança entre Maria Augusta e Rachel de Queiroz são patentes: ambas são cearenses, estudaram em escolas religiosas e se afastaram de tais ensinamentos.  As três Marias, batizadas pela Irmã Germana, lembra-nos as três Marias Bíblicas, as três estrelas do Céu. O apelido pegou, foi tatuado na própria pele, el...
Socorro, a louca
Literatura

Socorro, a louca

Dina Melo* Quem anda pela Terra há de pisar em espinhos. Sem dúvidas, Socorro pisou em vários deles. Cresceu louca. E triste. E desamparada. E marginalizada. Injustiçada, maltratada, esquecida, amedrontada. Ela bateu, apanhou, sua loucura provocou medo nas pessoas, mas ela se assustou também. Ela vagueou muitas vezes pelas estradas, sem destino, deixou-se anoitecer no mato, correu em desatino, olhou pelas frestas das janelas, quis saber o que havia lá dentro. Será que teve poesia na vida da Socorro? Houve mãos estendidas, carinhos, sussurros, beijos, sonhos? Alguém a matriculou na escola, comprou cadernos, disse que ela era bonita, que sua pele era macia, arrumou seus cabelos? No colégio, chamaram-na para brincar no recreio, uma menina disse - quero ser sua amiga, vamos pra min...
As flores murcham
Literatura

As flores murcham

Alexandre Lucas* A matemática não fechava e a perturbação fazia assento. Já duvidava da mentira e a acolhia nos braços como verdade. Entre a rede e o vaso sanitário transitou durante a madrugada, escorreu suor e diarreia, acelerou os pensamentos atropeladamente, sem um minuto de paz.     Espremia o corpo em forma de feto, encolhido, engolia o choro sem lágrimas. Contabilizava o desejo de viver como quem mapeia afetos e monstros. As palavras saíram rasgando a carne e a esperança. Quase morto, quase em Araguaia, já não tinha forças para guerrilha.  Lembrava do último almoço com a sua mãe e seu pai, já velhos e de pouca carne.  Queria ser livre, mas vivia clandestinamente para viver. Foi visto brincando com as flores, logo o acusaram de bicho e destruidor ...