Autor: Nordestinados a Ler

Debaixo do pé de manga tinha um sonho
Literatura

Debaixo do pé de manga tinha um sonho

Talvez Lili fosse seu apelido. Era madrugada de sábado. A menina de treze anos se sacudiu com os gritos. Já era tarde. O homem se mexia—talvez arrependido, talvez vingado, concretamente embrutecido. Seus olhos se perdiam no meio do sangue. Lili já não gritava. Não mexia nada. A menina de treze anos não sabia se gritava, não sabia se corria, não sabia de nada. A menina não teria mais Lili. "Lili está entre as estrelas olhando por nós." Mentira. Lili está costurada nos olhos e na cabeça da menina de treze anos. — Mãe, mãe, mãe... Lili já não escuta. Dizem que Lili foi vista debaixo de um pé de manga, entre beijos e abraços. Lili devia estar enxugando lágrimas, pegando vento, tentando respirar. Lili volta. Lili não volta. Sobre o autor:
A Travessia na Casa Abrigo
Literatura

A Travessia na Casa Abrigo

Um jarrinho com flores de Nossa Senhora. A poeta das plantas oferta o tempo, as mãos para massagear a terra e o brilho dos olhos para adubar a esperança. Há dias, a poeta tempera o solo com nuvens e cores, rega com sorrisos o poema incerteza. A simplicidade alimenta o verso partilha. A poeta, traquina, arma sua rede na lua e se veste de pétalas. A travessia é um sonho entre céu e terra, onde a liberdade grita carinho. O passado é uma prisão desleixada de amor. A poeta tremula sua bandeira de folhas e ventos, um dia de cada vez. O jarrinho de flores de Nossa Senhora é página de um livro inacabado. A poeta não cansa de escrever, na varanda de cara para o sol e a lua, a sua poesia diária. Sobre o autor: Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho....
Reflexão da alma
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Reflexão da alma

Sou um mistério, difícil de entender, Talvez tudo ou nada, sem saber. Entre altos e baixos, a vida flui, Caminhos incertos, onde a alma inclui. Nos sorrisos e lágrimas, a verdade se esconde, Um jogo de sombras onde a luz responde. Sou a essência que busca se encontrar, Na dança do tempo, aprendendo a amar. Sobre a autora: Estudante e integrante do Clube da Palavra do Colégio Municipal (Crato)
Cecília Meireles e alguns Problemas da Literatura Infantil
Literatura

Cecília Meireles e alguns Problemas da Literatura Infantil

Não é difícil escrever sobre uma escorpiana - Cecília Meireles - nascida em 07 de novembro de 1901 que exalava mistério, intensidade, magnetismo e uma força descomunal após algumas perdas. Difícil é traduzir em palavras as ausências de uma criança. Antes de nascer, seus pais, Carlos Alberto Carvalho Benevides (funcionário do Banco do Brasil) e Mathilde Benevides (professora primária), haviam perdido outros três filhos: Carmen, Vitor e Carlos. Três mês antes de vir ao mundo, Cecília fica sem o pai. Próximo de completar três anos de idade, falece a mãe. Cecília foi criada pela avó Jacinta e pela babá, Pedrina, que lhe contava histórias do folclore brasileiro. Anos mais tarde, Cecília participaria ativamente da Comissão Nacional de Folclore, porque acreditava se...
  Ensaio para Dias Floridos
Literatura

  Ensaio para Dias Floridos

Macramê se espalhando pelas mãos. A linha costurava paciência, pontuava feridas, juntava no chão a delicadeza. O macarrão com pimenta calabresa, molho de tomate e alho refogava as linhas do jantar, que se nutria de olhares esboçados, de um armarinho de sorrisos. Alguns toques suaves de beijos se faziam vento.  O vestido de listas azuis, bordado de flores, a deixava um jardim. Não era primavera, mas as flores brotaram num piscar de olhos. A jiboia, ganha de presente, estava se recuperando para se espalhar em linhas pela casa, deixando rastros verdes e brancos. Enquanto comia morangos, colhia suas sementes para dois vasos, para engravidar moranguinhos. O vestido de listas azuis, bordado de flores, saiu antes do sol nascer, deixou o macramê para refazer – aquele que segurava um lam...
A cabeça do santo: uma história com mulheres fortes, muitos segredos e um final singelo
Literatura

A cabeça do santo: uma história com mulheres fortes, muitos segredos e um final singelo

A leitura salvou minha vida. Salvou minha vida por me fazer sonhar, nunca parar de escrever, ousar, planejar, empreender (como diz meu querido amigo Boanerges Custódio) e, principalmente, imaginar.   Ler é buscar novas ideias, histórias que nos tirem da poltrona, é ousar, sonhar, ver novos mundos, lugares e pessoas. Sofrer e se alegrar com essas pessoas e situações. E foi com a vontade de buscar um mundo novo como se eu tivesse diante de mim a abertura de mil portas na minha mente e alma que li com avidez e uma incrível sensação de nordestinidade e cearensidade a partir da dica de minha nora de coração, Mairla Santos, e com espanto de felicidade o livro A cabeça do santo, da escritora cearense Socorro Acioli. O livro nos leva à inusitada história de um jovem que sai de Juazei...
A poeta das plantas
Literatura

A poeta das plantas

Nas manhãs frias e chorosas, fabriquemos o fogo e os girassóis. Na entrada da casa, espadas de São Jorge e Santa Bárbara testemunham a travessia do tempo, do cuidado e do carinho. As noites estão mais iluminadas: faço fogueira, deito no colo, escuto histórias que assanham meus cabelos. Fiz a barba, cortei o cabelo, estou mais novo. A idade é a mesma: quatro décadas e meia dúzia. Chuto pedras para brincar com as estrelas, ando meio abobado. Talvez seja a fogueira no meio da casa e tuas espadas de São Jorge e Santa Bárbara. Tomo sopa de costela com pão, enquanto observo o gosto do teu sorriso. Tuas malas, aos poucos, vão se encaixando. Mando fazer uma chave da porta de entrada para que entres sem bater. Podes incendiar as madrugadas e o resto do dia. Quando entrares, olha para os lados...
 Alforrias: um convite à poética de Rita Santana
Literatura

 Alforrias: um convite à poética de Rita Santana

Luciana Bessa Alforrias, obra poética da escritora baiana Rita Santana, publicada em 2012, traz vinte e oito poemas e um convite aos leitores: compartilhar da caminhada de um sujeito lírico que imprime à obra tonalidades afrodescentes. Além de vocábulos - “ancestrais”, “moleque”, “quilombolas”, “alambique” – esse tom já é perceptível no próprio título: “alforrias”. O maior desejo dos escravizados era conseguir sua “carta de alforria”, documento que oficializava sua liberdade. Outra conotação que o termo traz é a liberdade em relação ao homem amado, ao sentimento amoroso. Assim como o bardo português, Luís Vaz de Camões, se estiver presa é “por vontade” e nada mais. Rita Santana convidou outra poeta, Hilda Hilst, para participar da obra dela por meio do poema, colocado como epígraf...
Dia das Crianças no Gesso: uma festa política para a classe trabalhadora
Cultura

Dia das Crianças no Gesso: uma festa política para a classe trabalhadora

Alexandre Lucas Existe algo de diferente no Dia das Crianças no Gesso? Essa pergunta pode ser norteadora para repensar metodologias pedagógicas e políticas de organização popular. O Dia das Crianças no Gesso é realizado desde 2009, na cidade do Crato, a partir da iniciativa do Ponto de Cultura Coletivo Camaradas. A localidade é a principal área de atuação dessa organização de esquerda de viés marxista, que funciona como laboratório social para experimentar a relação entre teoria e prática no campo da democratização estética e artística, da educação ambiental e da luta pelo direito à cidade. O Dia das Crianças, enquanto evento, é uma ação bastante comum em escolas, organizações da sociedade civil e iniciativas coletivas e individuais nos bairros. São normalmente...
Como as Democracias Morrem
Literatura

Como as Democracias Morrem

Tarso Araújo O livro Como as Democracias Morrem é um daqueles trabalhos que já entraram para a história da literatura mundial por ser uma espécie de chamamento para decifrar o espírito dos nossos dias atuais. As democracias estão passando por dificuldades. Setores grandes das sociedades se veem sufocados, acham a democracia uma desgraça e embarcam em qualquer aventura extremista para se livrar do que consideram um problema. As democracias, o estado perverso, a educação, a comunidade LGBT, o outro que não professa a mesma ideia de Deus e religião, um imigrante, ou um sindicalista, um comunista, enfim, quem é ou pode ser considerado – ou eleito – como um inimigo. Gente que cresce e não realiza seus sonhos, fica uma pessoa ressentida é um poço para o extremismo. Gente mal resolvida, com...